Simondon, Latour e agência técnica como sede de associações na industrialização da eletricidade
Resumo
Segundo Simondon, o “objeto técnico primitivo não é um sistema natural, físico; é a tradução física de um sistema intelectual” (MEOT, 2020, p. 90). No registro da primitividade da concretização, a patente pode ser compreendida como o registro do começo absoluto de um vislumbre de possibilidades tecnopolíticas. No século XVIII em diante, mas aqui especialmente tratado o final do século XIX e início do século XX estadunidense, a patente pode ser compreendida, também, como uma síntese de associações e uma disparação de re-associações. Síntese de associações porque o começo absoluto patenteado é a vitória de uma corrida disputada entre grupos de inventores e seus financiadores, que associam os interesses naturais e técnicos, necessários para um modo de funcionamento exitoso, com interesses de êxitos terceiros: galgarem posições vantajosas em industrializações. Disparação de re-associações porque a tecnicidade individual, em sua natureza técnica depositária de elementos técnicos integrados num meio associado regulador de conjuntos técnicos, exerceu agência tecnoindustrial ao situar a empresa patenteadora numa posição privilegiada para se inscrever como ponto de passagem obrigatória na concretização de conjuntos técnicos comercializáveis e como centro de cálculo na gênese de setores industriais. Por esses motivos, a “tradução física de um sistema intelectual” é mediada por interesses em agência-rede, e o modo de existência dos objetos técnicos (elemental, individual e conjuntural) importa para a compreensão das agências tecnopolíticas. Como casos empíricos, aborda-se as corridas pelo patenteamento e a vida industrial de um dos primeiros elementos técnicos elétricos e um dos primeiros indivíduos técnicos elétricos a ingressarem no mercado doméstico, a lâmpada incandescente, de Thomas Edison e sua corporação General Electric, e o telefone, de Alexander Graham Bell e sua corporação American Telephone and Telegraph. Conclui-se que tais associações agiram na solidificação de: (1) um capitalismo de privatização monopolista da pesquisa, da invenção e da exploração comercial da redução da margem de indeterminação de objetos técnicos elétricos, por grandes corporações que se beneficiaram de políticas estadunidenses de desenvolvimento nacional heroicizantes de inventores e de uma nacionalidade “inventiva e líder na indústria de tecnologias”, e (2) uma cultura legitimadora da alienação da invenção técnica a corporações.