Aliança matrimonial e ocupação territorial

um estudo sobre o sul do Amazonas

Autores

  • Edmundo Antonio Peggion

Resumo

Os artigos de Claude Lévi-Strauss sobre os povos Kagwahiva que habitavam a região do rio Machado, em Rondônia, indicavam que os grupos locais tinham dois modos distintos e interligados de realizar o matrimônio: com afins distantes e com primos cruzados. Segundo o autor, o primeiro levava a uma regularidade de vínculos entre primos cruzados nas gerações subsequentes, o que, por sua vez, tornava necessário um novo ciclo de alianças entre grupos distantes. Em estudo recente, realizado entre os Tenharin do rio Marmelos, foi possível perceber a constituição de novas aldeias a partir de dissensões ocorridas entre líderes de grupos domésticos. Percebeu-se que os novos locais de moradia sempre remetiam a antigas ocupações ou a grandes chefes que ali viveram. Se em tempos antigos o eixo de referência das aldeias era o rio, hoje é a rodovia BR-230, Transamazônica. Aparentemente, ocorre uma nova configuração relacional com primos cruzados que habitam aldeias diferentes (como afins) e os que habitam a mesma aldeia (como primos cruzados, propriamente), fato que remete às notas de Lévi-Strauss. Uma reflexão interdisciplinar entre antropologia e computação com registros genealógicos de médio prazo poderia ser interessante para compreender se, de fato, há ciclos matrimoniais e se eles ocorrem como aqui indicado. Além disso, tais registros poderão ser instrumentos importantes para a comunidade Tenharin pensar sobre a ocupação de seu território ao longo das últimas décadas.

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Publicado

2022-04-28