Conexões Controversas entre Chefia e Parentesco Guarani

Autores

  • Adriana Queiroz Testa

Resumo

O papel das relações de parentesco na constituição e no exercício da chefia política e religiosa ameríndia aparece nos primeiros registros de viajantes e missionários, flagrando o interesse e até mesmo fascínio despertado por figuras de chefes políticos e religiosos tupi-guarani. Entretanto, é a partir dos estudos de Pierre Clastres e Hélène Clastres que os Guarani se tornam referência para a generalização de um modelo teórico da antropologia política nas terras baixas da América do Sul. O exame de fontes históricas e etnográficas revela um debate perene, recheado de controvérsias, sobre as conexões entre parentesco e chefia. Nesse sentido, observa-se que os modelos analíticos consagrados na etnologia guarani apresentam conclusões divergentes no que diz respeito à influência do parentesco na transmissão da chefia, bem como às relações entre a chefia política e o xamanismo. Nessa arena de disputas acaloradas, esta comunicação propõe que o uso de métodos computacionais pode ajudar a encontrar novos caminhos para elucidar velhos enigmas. Assim, diante de modelos teóricos conflitantes e em diálogo com etnografias clássicas e contemporâneas, este trabalho explora um corpus inédito de informações etnográficas sobre a chefia guarani com o auxílio das ferramentas computacionais MS-Access, MaqPar e Pajek. O exercício parte de um banco de dados contendo informações genealógicas de 1781 indivíduos, nascidos após a segunda metade do século XIX, e dados sobre o exercício da chefia religiosa e política em cerca de 80 localidades nos países do cone sul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). A análise desses dados traz respostas para três problemas persistentes nos debates sobre a chefia ameríndia: (1) o peso da hereditariedade na transmissão da chefia; (2) a influência de alianças matrimoniais na constituição e no exercício da chefia; e (3) a própria natureza das relações entre a chefia política e religiosa – se elas se desenvolvem como forças opostas, conforme o modelo clastriano, se são papéis que se concentram em uma única figura, seguindo as formulações de Curt Nimuendaju e Egon Schaden, ou se os laços de parentesco constituem vias de conexão entre essas duas dimensões da chefia, indicando novas perspectivas analíticas.

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Publicado

2022-04-28