Quando a menstruação vira sinônimo de doença
narrativas de menstruações dolorosas
Resumo
Este trabalho é fruto de um estudo mais amplo, no qual analisei os usos e desusos da pílula anticoncepcional por jovens mulheres das classes médias urbanas da cidade de Florianópolis, SC, entre os anos de 2018 e 2019. No presente artigo, entretanto, concentro minhas análises sobre as narrativas de menstruações dolorosas de mulheres que sofrem de dismenorreia, endometriose e/ou displasia mamária e, portanto, consideram a pílula anticoncepcional um medicamento crucial para o tratamento de seus corpos e seus ciclos menstruais. Tais narrativas se contrapõem às narrativas de outras mulheres que, recentemente, têm optado por recusar o uso de contraceptivos hormonais como forma de poder acessar suas menstruações e melhor conhecer seus corpos e libidos. Em contraponto ao que considero uma “recusa” ao anticoncepcional, surge, o que algumas de minhas interlocutoras denominam a “ditadura anti-pílula”. O sofrimento das mulheres que fazem uso do medicamento contraceptivo como uma forma de controlar seus ciclos aparece de forma dobrada neste trabalho, pois, além de necessitar da pílula, se veem impossibilitadas de recusá-la e moralmente acuadas por aquelas outras mulheres que valorizam o sangramento menstrual. Assim sendo, aqui exploro os modos como a gestão e o cuidado do ciclo menstrual é atravessado por diferentes corporalidades, dispositivos medicamentosos e moralidades.