Corpos castos, sangues profanos
mulher, menstruação e medicina na américa portuguesa do século XVIII
Resumo
O conceito de ciclo menstrual foi se construindo, ao longo dos séculos, e incorporando significados concebidos a partir do imaginário social e religioso. Foi objeto de censura e, muitas vezes, de medo nos meandros da sociedade mineira na América portuguesa do século XVIII. Esse tema recebeu atenção no manual de medicina setecentista Erário mineral (1735) do cirurgião-barbeiro Luís Gomes Ferreira, que aborda o assunto e descreve como se deve tratar essas alterações fisiológicas. Deste modo, propõe-se, enquanto projeto de pesquisa, compreender como a medicina estava organizada no setecentos, qual o paradigma médico dominante nas academias e em quais teorias os praticantes da colônia mineira se pautavam, pretendendo, também, assinalar as manifestações do útero que moldaram a desqualificação/inferiorização das mulheres. A metodologia adotada pela pesquisa é a descritiva, onde se procurou fazer um levantamento das descrições sobre a menstruação e as consequências do contato com esse sangue, bem como, a explicativa, examinando as descrições para apreender o conceito de menstruação no setecentos, quanto compreender as relações que situam o sangue menstrual com doenças patológicas, físicas e mentais. A pesquisa concluiu até o momento que a Teoria Humoral HipocráticoGalênica foi o paradigma médico dominante desde o século V a.C até a primeira metade do século XVIII, onde os manuais de medicina que circulavam na colônia mineira na América Portuguesa, trabalham as doenças com base nessa teoria, bem como, devido ao complexo contexto do setecentos, no que tange aos campos de conhecimento que buscavam explicar a saúde e a doença, havia diversos personagens na colônia que atuavam na terapêutica, tais como poucos médicos, muitos cirurgiões, boticários e atuantes na ilegalidade, como curandeiros, benzedeiros e parteiras. A medicina portuguesa baseada nos princípios hipocráticos enquadrou a menstruação feminina na teoria, a enxergando como uma catarse, um fluído venenoso que se formava todo mês em seu útero e necessitava ser evacuado, a mulher era vista como uma doente desde seu nascimento por sua fisiologia, o mesmo fluído causava-lhe doenças físicas, incluindo diversos sintomas como dor e epilepsia, até as mentais como histeria e desordens mentais.