Vida nas ruínas

afetos no encontro entre pesquisadores e a população de rua

Autores

  • Joana Mostafa

Resumo

Este artigo analisa e fabula em torno dos encontros iniciais de uma pesquisa com populações em situação de rua no centro de Brasília. A pesquisa de campo conta com a mediação de uma associação que realiza ações de redução de danos junto àquela população.  A pesquisa pretende investigar a relação das pessoas em situação de rua com as instituições públicas a partir de suas narrativas e práticas cotidianas. A intenção é de experimentar com as estratégias de negociação das categorias, protocolos, narrativas, relações e práticas que tecem o encontro entre população em situação de rua e as instituições públicas. Interessam, sobretudo, as traduções e os acontecimentos que propiciam, ao contrário da ideia de exclusão, algum vínculo, alguma troca, alguma política. Mas por que esse problema interessaria a pesquisadoras “como eu”? Quais técnicas podem revelar a parcialidade e os efeitos de poder da minha fala e texto a fim de que eu possa alcançar uma “objetividade” que não negue história e luta ao outro pesquisado? Este texto trabalha no sentido de desatar esses “nós” a partir da literatura de análise de implicação e do pensamento posicionado feminista. Ao fazê-lo, coloca em presença posições inconciliáveis de diferentes perspectivas cosmopolíticas numa fabulação em que ratos, população de rua e pesquisadores travam um embate nas mídias digitais. Desejo, com isso, abrir caminho para afetos e pensamentos que desloquem as superfícies prévias entre sujeito-objeto de pesquisa, ao seguir a pista de minha interlocutora, ao longo dos primeiros dias, em que me contou sobre a superfície bastante tênue entre ratos e humanos.

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Publicado

2022-04-28

Edição

Seção

ST05 Tecnopolíticas, Cosmopoliticas: conflitualidades e modos de saber face ao plantationceno