Urbanismo climático e contra-experimentações regenerativas em Milão (Itália)
Resumo
A cidade de Milão tem se destacado como uma das cidades mais ativas internacionalmente na adoção de políticas de adaptação a eventos climáticos extremos. Sua área metropolitana é atualmente uma das regiões com maior índice de poluição atmosférica da Europa. Diante deste primado, o município tem promovido políticas de mobilidade de ‘baixo impacto’ e um amplo programa de reflorestamento urbano. Mas esta faceta se conecta, e não contradiz, a uma prática de exploração intensiva do solo urbano e especulação imobiliária incontrolável (definida por ativistas como o ‘Modelo Milano’) - com a consequente expulsão de populações de baixa renda às áreas metropolitanas periféricas. O objetivo deste trabalho é aquele de apresentar de que modo os clima-ativistas respondem ao desafio simultâneo de bloquear a ‘máquina do antropoceno’ (Amin e Thrift, 2017) e desertar daquilo que definiremos como ‘socialidades fósseis’ - engajando-se portanto na criação de novos territórios existenciais (Guattari) não mediados pelas redes de dependência (Stengers, 2020) extrativistas. Este trabalho se baseia em um trabalho de campo (presencial e virtual) de 18 meses com os clima-ativistas (a rede ‘Milano per il Clima’) e administradores públicos envolvidos na elaboração de planos de mitigação e adaptação climática (DP Città Resiliente). Aqui, iremos nos concentrar em dois aspectos: em primeiro lugar nas estratégias de resistência dos clima-ativistas para evitar a destruição de áreas verdes urbanas (Bovisa, Baiamonte e Bassini) através bloqueio, ocupação, audiências públicas e manifestações; em segundo lugar, nas práticas de regeneração de áreas abandonadas na periferia da cidade (‘Regeneration Heroes’/Parco della Vettabbia). Se no primeiro caso se trata de seguir o modo como os clima-ativistas buscam enfrentar e desacelerar a 'máquina do antropoceno', no segundo caso trata-se de explorar - a partir de um território geograficamente marginal - as experimentações de coexistência multiespécie e de ações coletivas definida por eles como ‘regenerativas’ (como a ‘guerrilha agroflorestal’). O fio que conecta ambas situações é aquele de ‘tornar-se ativo’ (become active) enquanto dimensão subjetiva e material, pessoal e coletiva que ‘arrasta’ estes ativistas em uma trajetória de experimentação de respostas não-bárbaras (Stengers, 2009) que, segundo o relato de uma das ativistas, se definia pela urgência de “aprender a viver no tempo do colapso climático e ecológico”.