Provocar sentidos, atenção e questionamentos
plantas na moda sustentável
Resumo
Na moda têxtil, o tingimento natural possibilita que tecidos sejam coloridos com plantas. Ele carrega em si conhecimentos ancestrais e contempla práticas de educação da atenção e dos sentidos, desenvolvidas por meio de (con)vivências, processos e aprendizados entre humanos, plantas e outros não-humanos. Manual ou industrial, o tingimento natural permite que roupas ganhem cores como o vermelho, o amarelo, o verde e o azul que vêm, respectivamente, a partir de espécies vegetais como pau-brasil, cúrcuma, erva-mate e anileira, para citar algumas. Distanciando-se da indústria têxtil convencional e de seus corantes sintéticos altamente poluentes, o tingimento natural permite diminuir tais impactos em solos e rios, bem como à saúde humana. Nesse tingimento, em suma, pequenos agricultores seguem vivendo com a floresta; tintureiros convivem com corantes e mordentes vegetais; roupas, por sua vez, além das fibras naturais, carregam majoritariamente plantas e no futuro, dada sua matéria, poderão se biodegradar. No Brasil, uma das marcas que tem o tingimento natural em seu cerne é Flavia Aranha - que venho estudando em meu doutorado. Baseada na capital paulista, desde 2009 faz o que emicamente vem nomeando como “roupa viva”, composta com tecidos prioritariamente orgânicos e vegetais e tingida com plantas, cuja cor se transforma com o tempo. Colocando em relação pessoas e plantas, a marca ainda alia tecnologia ao processo, que pode ser manual ou industrial, e atua junto a uma “teia viva” onde estão pequenos agricultores, artesãos, tintureiros, estilistas e outros profissionais. Outras marcas de moda vêm fazendo esse mesmo movimento, entendendo que humanos e roupas são parte da natureza e procurando respeitá-la e regenerá-la a partir da moda. Nessa prática, a um só tempo, se observa e se convive com as plantas, amplia-se os conhecimentos sobre a vida vegetal, os ecossistemas, a biodiversidade e sobre o modo de se viver com essa malha viva (meshwork) - na expressão do antropólogo Tim Ingold (2015), e observa-se as plantas entremeando e formando as roupas. Conhecida como sustentável, essa moda se relaciona com questões que permeiam a era atual, o Antropoceno, revendo os impactos que a moda convencional tem causado ao longo do tempo. Colocando a natureza, e não o lucro, no centro das decisões, a moda sustentável questiona o convencional e, no limite, o próprio capitalismo que, por muito tempo, conheceu a natureza apenas como recurso natural ilimitado.