Aprender um modo de ser yogi e sannyasi
desvendando relações a partir do ashram Casa do Guru
Resumo
O yoga se ergue a partir de matrizes epistemológicas e especulações-práticas sobre o cosmos e a vida que nuançam uma relação de simbiose, integração e unidade entre viventes dos distintos reinos, famílias e espécies. Seu complexo sistema metodológico abrange das técnicas corporais (asana), atravessando a interação com a energia vital (prana) através da manipulação da ação respiratória (pranayama) e possibilitando alcançar estados de suspensão da atividade sensória (pratyahara) e até mesmo do tempo (kala) (Niranjanananda 2005; Eliade 2009). O paradoxo da apreensão de tal sistema prático-especulativo, tal qual o yoga, reside na seguinte questão: uma experiência sublinhada e enfatizada a partir da individualidade e subjetividade de quem a vivencia só se assenta, todavia, a partir de um contexto relacional de aprendizagens, estando nela demarcada a presença do/a mestre e dos/as discípulos/as. Ainda, antes que tão somente a aprendizagem técnica da experiência do yoga (fundamental e basilar de sua vivência), compõe também a aprendizagem de modos de fazer e ser que nuançam uma perspectiva identitária. Proponho, portanto, estabelecer um diálogo, tendo como ponto de partida a etnografia que construí entre os anos de 2018 e 2020 envolvendo a minha constituição enquanto yogi e residente do ashram (espaço onde vivencia-se um modo de vida yogi cotidianamente) Casa do Guru (Serra da Moeda – MG), com as noções de “educação da atenção” de Tim Ingold (2000) e de “aprendizagem situada” de Jean Lave e Etienne Wenger (1991). O entrelaçamento etnográfico-reflexivo mira trazer a luz aspectos de nossa construção (individual/coletiva) enquanto yogis e sannyasis da tradição de Swami Satyananda Saraswati (Bihar School of Yoga, Munger, Índia) no Brasil. Tal construção, por sua vez, é nuançada por alguns aspectos como o silêncio, a solitude, o autoestudo e o cuidado. Concluo arriscando uma aproximação dessa tessitura etnográfica com pensamentos indígenas (Krenak 2019; Kopenawa & Albert 2015) e não-indígenas (Danowski & Viveiros de Castro 2011; Santos 2019) que também nos provocam a pensar-agir em direção à uma coletividade que permita a sustentação do sistema vida nas décadas vindouras.