Cosmotécnicas ameríndias no Grande Chaco Sul-americano

uma aproximação desde a etnografia toba (qom)

Autores

  • Pedro Emilio Robledo

Resumo

Baseado em etnografia produzida entre 2012 e 2018, em comunidades toba (qom) localizadas no curso médio do rio Bermejo no Grande Chaco Sul-americano, exploro a noção de técnica que intervém na elaboração de artefatos, entidades ideais e corpos. Parto da ideia que as artes e seus efeitos, antes que responder a gradientes evolutivos ou à variabilidade cultural, se vinculam a uma negociação cosmopolítica que se insere em cosmotécnicas específicas, entendidas como articulações locais da tecnicidade dos existentes que ostentam capacidade para produzir efeitos sob outros e intervir na configuração de seus ambientes. Na mitologia toba (qom) os atributos e artes culturais provém de um contexto extra social e são adquiridos pelos humanos em situações contingentes graças à agência de espécies animais. Essa presunção de exterioridade das fontes de conhecimentos e habilidades práticas reaparece nos modos como são descritas experiências contemporâneas de aquisição de virtudes para a dança, o canto, a cura, a caça e a oratória, entre outras. Assim como em outras áreas das terras baixas sul-americanas, aqui a técnica é em primeiro termo um atributo não humano. Esta noção se desloca da historicidade contida na ideia de tecnologia como diacrítico universal do processo de hominização e afastamento da humanidade da natureza. A experiência toba leva a pensar a técnica e seus efeitos produtivos como num acontecimento que permite descrever, não uma cultura, senão interconexões entre humanos e não humanos, e por seu intermédio as virtudes dos segundos e as ânsias dos primeiros.

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Publicado

2022-04-28

Edição

Seção

ST28 Ecologias biotécnicas: sistemas técnicos, manipulações e formas de vida emergentes