Caboclos e cosmopolíticas

encruzilhadas e invocações em um terreiro no recôncavo baiano

Autores

  • Fábio Alex Ferreira da Silva

Resumo

A partir do culto aos caboclos em terreiros de candomblé no recôncavo baiano, reflito sobre as dimensões cosmopolíticas de suas práticas, pensando como determinadas disposições espirituais mobilizam ações de rexistência às capturas de projetos de transformação dos territórios e identidades. Para pensar os tipos de engajamentos criativos que quero enfatizar, experimentei chamá-los “feitiços rexistenciais”. Compreendendo-os enquanto uma possibilidade de tecnologia afro-confluente que permite viver pluriontologias e viver uma não dissolução da existência em formas de resistir específicas. Sendo o ato de existir já contendo o resisitir, inspirado nos saberes relatados por Nego Bispo, discuto as confluências e os deslocamentos conceituais operados na cosmopolítica. Assim, reflito sobre perspectivas de práticas e pensamentos abordando-as enquanto avessas, como uma fractalidade de atr[avessa]mentos, reforçando a ideia de fluxos. Essa perspectiva nos possibilita pensar a noção de territórios desvinculada apenas da questão da terra, ligando-se a retomadas de formas de vida. Permite também, seguindo o pensamento de José Carlos dos Anjos - na proposição de uma filosofia política da religiosidade afro-brasileira - pensar o culto aos caboclos enquanto um modelo rizomático de encontro das diferenças que rexiste às capturas da identidade, abordando-as desde a encruzilhada. Nesse sentido, mobilizo a capacidade de enfatizar a Anunciação das formas de vida que rexistem e que empreendem ações necessárias para a continuidade da vida no ato de posicionar-se através de ações cosmopolíticas. Operam assim, através da invocação, reativando a possibilidade de outras agencias e perspectivas que expressam um campo pulsante de práticas e que conjugam ações de humanos e não-humanos, mas que principalmente, formulam suas propostas em relação à possibilidade e presença de um futuro colocado em outras temporalidades. Postulam então alternativas possíveis, porque apontam para um futuro que já aconteceu e porque se comunicam com a concepção de que o futuro é Ancestral, como nos diz Ailton Krenak.

Downloads

Publicado

2022-04-28

Edição

Seção

ST29 Rexistências e Cosmopolítica: modos de fazer a vida em tempo pandêmico