“A UEM vai ficar preta!”, e as etnografias também
Notas sobre etnografias decoloniais e uma reflexão
Resumo
A proposta deste trabalho é pensar sobre os modos do fazer etnográfico diante as epistemologias decoloniais na Antropologia que articulam questões sociopolíticas contemporâneas do sul global. Para isso, apresento uma leitura comentada da dissertação de Daniara Martins (2022), “A UEM vai ficar preta!: análise do processo de implementação de cotas para pessoas negras na Universidade Estadual de Maringá”, aproximando com textos clássicos da disciplina como Leach (1954), Marcus (1991), Sahlins (1997), Peirano (2007, 2014) e outra etnografia pioneira sobre racismo no Brasil (Nogueira 1954). Ao final, partindo do encontro de etnografias decoloniais (Benites 2018; Martins 2022), teço uma reflexão sobre escrevivências antropológicas, feminismo decolonial e a escrita de mulheres negras e racializadas. Esse esforço de aproximação entre textos se vale à reflexão sobre os modos do fazer etnográfico enquanto atualizadores e não tributário das teorias antropológicas, considerando também a teoria-crítica da dissertação sob leitura a respeito dos objetos de pesquisa racializados que viabilizaram o desenvolvimento do conhecimento antropológico numa base etnocêntrica, colonialista, racista e misógina. Com etnografias decoloniais podemos pensar juntas em feminismos, políticas públicas, direitos humanos, alinhadas à agenda do movimento negro e indígena feminista por uma antropologia engajada, uma escrita científica posicionada, pelo exercício de participação observante capaz de trazer à luz diferentes objetos decoloniais.