Nas margens do doméstico
Interações entre humanos e animais nas paisagens hídricas de duas metrópoles amazônicas
Resumo
Em Belém (PA) e Manaus (PA) a água é parte significativa da vida urbana. Intensas chuvas e grandes massas hídricas no entorno dessas cidades conectam fragmentos de florestas, igarapés, nascentes e alagadiços que compõem um sistema de drenagem bastante transformado por intervenções do Estado ou ocupações espontâneas em áreas empobrecidas e de grande adensamento residencial. Este trabalho consiste na aproximação de dois universos de pesquisa em que se observou a interação entre humanos e animais selvagens por meio da presença da água no cotidiano. Em Belém essas interações ocorrem majoritariamente nas situações de desastre – inundações e alagamentos – em que são borradas as fronteiras da cidade com o mundo tido como “natural”, enquanto que em Manaus especula-se sobre a adesão desses animais às franjas do ambiente doméstico, onde passam a coexistir com os humanos. A etnografia – concluída em Belém e preliminar em Manaus – discute como essas interações expressam as relações contraditórias entre água e cidade mediadas por intervenções técnicas sobre o meio hídrico nos dois contextos e aponta para os agenciamentos interespecíficos que configuram paisagens de perturbação na Amazônia urbana.