Coletivos maquínicos e sistemas digitais
Tensionamentos da noção de humanidade a partir de técnicas de aprendizado de máquina patenteadas pela Google
Resumo
Com a proliferação de tecnologias digitais, aumento de situações mediadas por algoritmos e avanço das técnicas de aprendizado de máquina e inteligência artificial, é cada vez mais frequente que tarefas antes entendidas como desempenhadas exclusivamente por humanas3 passem a ter um alto nível de envolvimento de agentes não-humanos em sistemas digitais. Exemplos são a escolha de palavras em mensagens de texto ou de ações que as usuárias desejam executar em aplicativos de smartphone, e a determinação da preferência em cancelar um download ou streaming. Partimos de descrições tecnológicas apresentadas em patentes da Google para refletir sobre como a análise da mediação de práticas sociais por técnicas de aprendizado de máquina exige a consideração de agências digitais, dialogando com discussões contemporâneas na antropologia que promovem a revisão e tensionamento da noção de “humano” enquanto entidade autônoma, fixa e previamente constituída. A virada materialista e os estudos multiespécies promovem o questionamento, a expansão e a desestabilização da ideia moderna de “humanidade”, deixando de defini-la em oposição a “natureza” e “tecnologia”. Desse modo, o trabalho parte de casos empíricos envolvendo mecanismos de modulação de comportamento de usuárias para descrever a mediação algorítmica como processo envolvendo relações não antropocêntricas entre uma multiplicidade emaranhada de agências “humanas” e “não humanas”.