Caminhos de Tígueres entre fraturas coloniais e imperiais em Santo Domingo, República Dominicana
Resumo
A avenida 27 de Febrero é um marco urbanístico que define espacial e temporalmente a cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana. Seu traçado e alcance foram inspirados no chamado “corredor norte-americano” produzido durante a ocupação imperial que brecou a revolução de 1965 no país. A partir de pesquisa de campo entre ex combatentes revolucionários, proponho nesse trabalho seguir os passos e caminhos que contrapõem a lógica de planejamento urbano que ordenou o espaço da cidade a partir da avenida. O período autoritário de doze anos que sucede a revolução, foi um preâmbulo da tragédia a longo prazo. Fratura imperial, colonial e autoritária, a avenida atravessa a cidade. Os ex-combatentes que conheci, fazem, por sua vez, caminhos pedestres em que narram sua atuação revolucionária, recriando seus dias de jovens ou tígueres pela cidade de Santo Domingo. Os espaços e lugares por onde anda(m)vam são acionados a cada passo como solos cronotópicos dotados de enredos contra-hegemômicos. As redes de amizade e afeto traçadas em espaços como os colmados (botecos/mercearias) desbordam em circuitos de compartilhamento que alcançam as redes sociais do digital. Em paralelo, a marcha do tempo-espaço neoliberal se expande gentrificando antigas zonas revolucionarias, e controlando o fluxo enfileirado dos engarrafamentos da avenida símbolo da modernidade dominicana. O exercício deste experimento busca evidenciar os futuros-passados que habitam alguns desses caminhos fugidios. Estariam em vias de desaparecimento? Que marcas eles deixam? De que formas eles espacializam histórias contra-hegemônicas? Que outras histórias a acidental topografia de Santo Domingo contêm?