Ocupando os dois Primeiros ODS com as estradas, ensinamentos e vivências da Tabanka Blom da atual Guiné-Bissau
Resumo
Este artigo propõe ocupar os dois primeiros ODS com a voz da tabanka Blom, interpelando suas soluções e propostas a partir da sua realidade. A oportunidade de quem foi lida como pobre e/ou miserável, quem foi atribuída a fome do mundo, de descrever sua condição através das próprias lentes e de seus fatores determinantes. A etnografia e djumbai (convocação do coração para entrar na roda de conversa de forma aleatória à medida que se sente tocada) entram como ferramentas metodológicas. Ao abordar ODS1, a pobreza aparece como koitadesa, “para nós: saber fazer algo e não ter instrumento de uso, isso é koitadesa". Ressaltando que o djumbai com interlocutoras e interlocutores foi na língua kriol e pepel, a pobreza não existe nessas línguas. Quanto a ODS2, a fome foi estranhada, "aqui dividimos tudo que tivermos com a vizinhança". Acrescentando “aqui quando uma pessoa não tem o que comer, outra casa tira a comida ou arroz e manda para a casa que não tem, ninguém nunca fica sem ter o que comer, não partilhar alimento é visto com maus olhos aqui, se o meu filho mesmo come em todas as casas aqui, por quê que eu não posso dar comida para o meu vizinho?” Sobre as frutas, "apenas comemos e o resto fica para os animais e a terra”. A tabanka é uma das possibilidades de vetor de cura e da restauração desse nosso mundo caótico. Também é contribuição valiosa para a construção de possíveis caminhos aptos a pensar o desenvolvimento rural sustentável de acordo com perspectivas diversas de saúde, abundância, prosperidades não capitalistas, bem viver, adaptáveis a cada realidade e tendo direito de serem respeitadas independentemente do lugar onde estariam sendo produzidas.