Modelos do Clima, Modelos Políticos: Uma breve historiografia da previsão numérica e modelagem climática no CPTEC/INPE
Resumo
Modelos climáticos numéricos tornaram-se centrais no desdobramento da história das mudanças climáticas, pois permitiram sustentar políticas direcionadas ao incentivo da pesquisa e desenvolvimento de novos conhecimentos e tecnologias para a aferição e mitigação dos efeitos dessas mudanças. Para compreender como esses modelos são produzidos e como participam de diferentes formas de governança, os Estudos da Ciência, Tecnologia e Sociedade (ECTS) podem colaborar de forma singular. Estes estudos, através de uma abordagem construtivista, podem tratar dos modelos climáticos não só como ferramentas heurísticas ou metáforas sobre o clima, mas como redes performativas que possibilitam a constituição de uma governança global do clima. Nessa perspectiva, essa capacidade dos modelos pode ser entendida como resultado de um processo de co-produção de políticas e ciências. Para discutir essa relação de mutua construção, esse trabalho pretende expor uma breve historiografia da implementação do programa de modelagem climática brasileiro no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Busca-se pontuar os momentos históricos da política ambiental e científica brasileira nos quais o programa de modelagem do INPE foi constituído. Desse modo, argumenta-se que as correlações favoráveis entre os discursos e as políticas afirmativas das mudanças climáticas, os incentivos das agencias de fomento a pesquisa e a credibilidade da ciência produzida anteriormente no INPE produziram as condições para que o programa de modelagem climática fosse iniciado nessa instituição.