Prolongar ou libertar? o papel da tecnologia em cuidados paliativos

Autores

  • Miguel Hexel Herrera Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Fabíola Rohden Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo

A medicina do século XX possibilitou, entre outras coisas, uma queda nas taxas de mortalidade neonatal e infantil. O desenvolvimento de recursos voltados à manutenção da vida resultou na introdução do respirador artificial na década de 1960 e, posteriormente, na disseminação de Centros de Terapia Intensiva. A conduta médica do período caracterizou-se por um viés paternalista no sentido de ter grande autonomia sobre o paciente, podendo prolongar excessivamente a vida - e o sofrimento - de um doente em estado terminal. Desde o fim da década de 1960 consolida-se uma abordagem alternativa a este modelo médico: os Cuidados Paliativos (CP), que têm como finalidade propiciar maior qualidade de vida aos pacientes cuja doença não responde mais aos tratamentos curativos. Trata-se de uma intervenção multidisciplinar que não pretende antecipar a morte e tampouco prolongar a vida, os paliativistas procuram controlar os efeitos da dor física e aliviar o sofrimento do paciente, que é preparado para enfrentar a morte com dignidade. A literatura especializada refere-se à medicina paliativa como uma prática de „baixa tecnologia e alto contato humano‟. Tomando esta classificação como ponto de partida, o presente trabalho pretende discutir o papel da tecnologia em CP a partir de um referencial teórico centrado nos estudos sociais da ciência. Para tanto, lanço mão de dados etnográficos produzidos em minha pesquisa de campo em duas unidades do Hospital de Clínicas de Porto Alegre: o Serviço de Medicina da Dor e o Núcleo de Cuidados Paliativos. Os espaços voltados para os CP não dependem de equipamento sofisticado como aqueles encontrados nas CTIs, mas isso não implica em ausência de tecnologia. São utilizados curativos especiais, cápsulas de morfina de liberação prolongada e termômetros digitais com sensores de calor eletrônicos. O objetivo do trabalho é comparar os usos - e efeitos radicais - da tecnologia tomando como exemplo a medicina intensiva e os cuidados paliativos.

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Publicado

2014-08-24