Poliqueixosos, seus meridianos e seus cérebros. Controvérsias sobre o emprego de procedimentos terapêuticos para o tratamento da dor em um Ambulatório de Porto Alegre
Resumo
Em 2006 o Ministério de Saúde do Brasil promulgou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Tal política tem possibilitado a promoção de terapias alternativas/complementares no âmbito do SUS, tais como: acupuntura, fitoterapia, homeopatia, termalismo, medicina antroposófica, reiki, florais, cromoterapias, entre outras. Ainda que o uso desse tipo de terapêuticas seja reconhecido por organismos internacionais, tal como a Organização Mundial de Saúde (OMS), sua oferta no contexto da saúde pública brasileira tem sido intensamente combatida por parte de organizações ateias, laboratórios farmacêuticos e sindicatos médicos de todo país. Este trabalho toma como foco de interesse empírico um Ambulatório da rede pública de Porto Alegre que agrega médicos e pesquisadores empenhados na descoberta dos princípios biomédicos da acupuntura e da circulação do Chi – a energia vital segundo a Medicina Tradicional Chinesa. Nesse contexto em que canais energéticos são tornados sistema nervoso periférico, chi é tornado neurotransmissão e fluxo vital se converte em resposta cerebral emergem controvérsias enunciadas na chave do científico e do não-científico, do real e da crença, do comprovado e do placebo. Dedico-me neste texto em refletir sobre o tema descrevendo o que (ideias, conceitos e materiais) cada um dos sujeitos e coletivos de pensamento mobilizam nessas controvérsias.