Redes Sociotécnicas: rizomas ou árvores?
Resumo
Neste trabalho, apresento reflexões sobre a noção de “redes sociotécnicas” tendo como referência uma etnografia ‘em rede’ realizada junto a farmacólogos envolvidos em uma pesquisa na área de farmacognosia, que visa à produção de fitoterápicos a partir de plantas medicinais e conhecimentos tradicionais coletados em uma comunidade ribeirinha amazônica. Tendo com referência inicial alguns princípios teóricos da antropologia simétrica e da teoria ator-rede – associados ao trabalho de autores como Latour, Callon, Law e Mol -, faço uso das noções de “rizoma” e “árvore” (ou modelo arbóreo), de Deleuze e Guattari (Mil Platôs), para descrever processos que ocorrem no âmbito das redes, envolvendo tanto o trabalho de ordenação e coordenação realizado pelos atores humanos e não humanos, como também os movimentos de “devir” e “desterritorialização” que colocam em interação plantas, pessoas, textos, máquinas, equações, animais, espíritos da floresta e substâncias químicas, produzindo artefatos híbridos como remédios caseiros e fitoterápicos. Essa reflexão será ilustrada pela descrição das práticas de conhecimento que ocorrem no contexto da comunidade e do laboratório, com ênfase nas práticas de tradução e purificação que perpassam a relação entre a farmacologia e os conhecimentos medicinais ribeirinhos. Por último, ainda de forma bastante experimental, apresento alguns apontamentos críticos sobre o debate “ANT Vs. Spider”, mencionado por Tim Ingold, no livro “Being Alive”, tendo como base uma comparação entre as noções de rede e “emaranhado de linhas”.