Entre anti-fatos, fatos e não-fatos: a semiótica material da história da Palaeolama (camelidae) Sul Americana
Resumo
O presente artigo se inspira na semiótica material para compreender como ocorre a construção da história natural a partir do estabelecimento de fatos científicos no campo da paleontologia. Para isso são revisitados e re-significados as experiências obtidas pela primeira autora desse artigo durante os dois anos que atuou como pesquisadora em quatro Museus de Ciências Naturais da América do Sul. Em particular, são identificados e analisados a partir da teoria Ator-Rede os pontos de passagem obrigatórios (gestores das coleções, programas de pós-graduação), os atores humanos (orientadores, técnicos de laboratório) e não-humanos (fosseis, recursos financeiros). Nesse contexto são discutidas a biografia de três entidades: um contra-fato (uma construção que visou questionar a veracidade da existência de uma nova espécie de camelídeo afirmada por um grupo rival ao submeter esse fato a um teste de força); um fato (o estabelecimento do teor da dieta dos camelídeos a partir das inscrições obtidas por copólitos); e um não- fato (a incapacidade da pesquisadora de provar a existência de uma nova espécie de camelídeo – transformando uma opinião em um fato – em consequência da atuação de um ponto de passagem obrigatório). A partir dessa análise o artigo argumenta que os fatos científicos no campo da paleontologia são construções sócio-materiais, que dependem da aliança intima com atores não-humanos, como instrumentos de laboratório (inscritores) e fósseis. Porém, esses fatos não surgem de modo natural e neutro a partir da materialidade inerte de fósseis e coprólitos de animais extintos. Ao contrário, o estudo mostra que mesmo em campos pouco politizados a construção de fatos dependem também do alinhamento de interesses políticos, econômicos e pessoais. Sendo assim devemos considerar a história natural como sendo enredamentos temporários, dinâmicos e contingencias, seja do ponto de vista social que material.