Ciências e mundos aquecidos
Resumo
As mudanças climáticas estão no centro de um dos debates científicos e sociopolíticos mais aquecidos da atualidade. Elas vêm ocupando um papel cada vez mais proeminente em discussões sobre energia, sustentabilidade, desastres ambientais, risco e há um crescente interesse por antropólogos de diversas tradições em estudar os impactos e as dinâmicas sociais em coletivos considerados vulneráveis aos efeitos de tais mudanças. Mas há pouquíssimos estudos etnográficos sobre as próprias pesquisas das ciências das mudanças climáticas. O objetivo deste estudo é o de contribuir para as descrições de ciências feitas na área da antropologia da ciência, em geral, assim como nos estudos interdisciplinares sobre mudanças climáticas, especificamente. Partindo da perspectiva da teoria do Ator-Rede (ANT), dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, esta etnografia visa traçar as redes em torno dessa controvérsia científica no Estado de São Paulo, principalmente na USP, após a fundação do Núcleo de Apoio à Pesquisa INCLINE, e no INPE e em torno das recentes controvérsias envolvendo pesquisadores paulistas em meios de comunicação voltados ao público geral, em meios de comunicação voltados à comunidade universitária e também em eventos científicos especializados. O material de análise deste estudo de controvérsias que mobilizam redes de humanos e não-humanos em suas construções de natureza, sociedade e tempo são as produções científicas, seus discursos, seus conceitos, modelos, iconografias, seguindo os passos dos projetos cosmopolíticos propostos por Bruno Latour e Isabelle Stengers.