Um imenso campo mórbido: controvérsias médico-científicas no contexto da epidemia de cólera-morbus em meados do século XIX

Autores

  • Luciana dos Santos Universidade de São Paulo

Resumo

O evento da epidemia de cólera-morbus deflagrada na província de Pernambuco em meados do século XIX processou mudanças significativas na pauta científica e no redirecionamento das suas pesquisas, deslocando o foco das investigações médicas - voltadas naquele momento quase que exclusivamente aos males endêmicos ou tipicamente tropicais - para as doenças epidêmicas ou importadas. Ao surgir enquanto um mal estrangeiro, desconhecido e imprevisível - em uma época que antecede às pesquisas de Louis Pasteur em microbiologia e a descoberta do vibrião colérico por Robert Koch -, a cólera-morbus produziu controvérsias em torno da sua etiologia e práticas de cura, além de mobilizar cientistas e governos em programas de contenção e combate ao mal. Ao chegar ao país em 1855, a cólera-morbus desenhou um extenso campo mórbido definido por um grande número de agentes patogênicos - associados ao ar, à água, ao solo e aos miasmas que se desprendiam dos pântanos - e que, por sua vez, manifestavam-se nos corpos e nos espíritos dos indivíduos. A proposta da apresentação é examinar o discurso médico, destacando suas concepções de natureza, especialmente, aquelas relacionadas à observação do clima e das populações tropicais. Nesse ponto, estarei atenta às variações ontológicas das entidades de não-humanos e às noções de corpo mobilizadas no discurso médico-científico. Trata-se, essencialmente, de acompanhar tanto uma ciência, quanto uma sociedade em devir.

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Publicado

2014-08-25