O atleta monitorado: um estudo sobre o passaporte biológico e o avanço dos mecanismos de monitoramento de atletas na luta contra o doping
Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise sobre um mecanismo de monitoramento de atletas profissionais e as controvérsias implicadas a partir da disposição desta ferramenta na luta contra o doping. O Athlete Biological Passport foi desenvolvido pela Agência Mundial Anti-Doping em 2009, o seu princípio fundamental é estabelecer um parâmetro biológico a partir do qual seria possível identificar, longitudinalmente, mudanças no padrão ocasionadas pelo uso de esteróides e outras substâncias proibidas. O passaporte biológico revela indiretamente os efeitos da utilização de doping no corpo do atleta, implicando um deslocamento nas formas de comprovação do uso de doping. A prova passa a ser produzida através da constatação de mudanças no perfil biológico do atleta e não mais através da detecção em exames de urina realizados durante as competições. Passamos do acontecimento do teste em competição para um tempo estriado, no qual o atleta é transformado em perfil biológico monitorado pelo dispositivo que o tem sob constante vigilância. Neste sentido, podemos compreender o passaporte biológico como um mecanismo de controle, que busca controlar e codificar práticas de dopagem heterogêneas ao instaurar um novo meio de visualizar e produzir enunciações sobre o doping. Ao partirmos de um estudo sobre este dispositivo técnico, que em sua viabilização articula concepções sobre o doping com a produção de um sistema contínuo de monitoramento de atletas, a luta antidoping aparece como um discurso abrangente, que em sua positividade produz o doping. Desta forma, ao analisar a instituição e os desdobramentos ocasionados por este dispositivo viso problematizar a produção de representações sobre o corpo e sobre o esporte que emergem das relações de poder instauradas pela auto intitulada luta antidoping e pelo seu novo mecanismo de monitoramento.