Malhas cartográficas técnicas, conhecimentos e cosmopolítica do ato de mapear territórios indígenas
Resumo
É crescente o uso de mapas como instrumento de reivindicação territorial, de gestão de conflitos e de manejo ambiental no contexto dos territórios indígenas latino-americanos. No Brasil, este processo ganhou força a partir da Constituição Federal de 1988 e da ratificação da Convenção OIT 169, com o reconhecimento das formas plurais de conceber e ocupar o espaço, o que muitos autores chamam de “virada territorial”. Mais recentemente, a ambientalização da ação indigenista proporcionou a incorporação dos territórios indígenas no rol das chamadas áreas protegidas com a proliferação de projetos de desenvolvimento sustentável. O uso de mapas desde então tem se voltado para a gestão ambiental, incorporando os conhecimentos indígenas, os chamados Etnomapas, Etnocartografias ou EtnoSIGs. No entanto, a atual “febre” da técnica dos etnomapeamentos levanta algumas questões relevantes do ponto de vista antropológico: a primeira refere-se à ontologia da cartografia científica e a intercomunicabilidade com outras ontologias, no qual o mapear não necessariamente se constitui como uma forma representacional do espaço, de fragmentação entre a mente e o mundo, entre a natureza e a cultura. Esta questão nos leva ao debate entre universalismo e particularismo do ato de produzir mapas e da concepção paisagística que subjaz esta prática. Coloco em questão os mapas mentais (ou à crítica), tidos como uma prática classificatória que tem como corolário a separação entre o aparato cognitivo-sensorial do mapeador e uma paisagem exterior e independente. Aponto para o ato de mapear como um processo vivo, rizomático, no qual um organismo se engaja perceptivamente e dinamicamente no mundo, habitando-o, de onde partem narrativas e histórias de lugares e relações, constituintes de uma cartografia vivencial ou uma cartografia rizomática. Pretendo tratar das questões acicom uma perspectiva etnográfica em uma experiência cartográfica junto ao povo indígena Pataxó.