Sobre alguns aspectos das relações entre humanos e não humanos: Ética, Cultura e Ciência
Resumo
As relações estabelecidas entre humanos e outros animais em diferentes culturas são plurais e sugerem um amplo leque de possibilidades que são geralmente híbridas e multifacetadas. Atividades econômicas, culinária, exploração de recursos ambientais, saúde, doença e morte, mitologia e religião, socialização, produção de conhecimento, lazer, técnicas e inspiração para a arte são fenômenos que podem ser mediados por tais relações. Deleuze e Guattari sugerem que tais relações são fortemente influenciadas por outras relações entre homem e mulher, homem e criança e do humano com os outros elementos do macro e do micro universo. Essa reflexão visa explorar alguns aspectos de tais relações no plano do conhecimento acadêmico, especificamente as interfaces entre as ciências sociais e as biociências, bem como suas repercussões em nossa sociedade através dos mecanismos de divulgação científica e da sensibilização de certos setores sociais acerca dos direitos dos animais. O ponto de partida específico da análise são os estudos sobre comportamento de grandes símios, em particular, os chimpanzés e o uso, por parte dos pesquisadores de termos tais como “tradição”, “cultura”, “cultura material” e outros para caracterizar seus comportamentos. A análise enfatizará a perspectiva evolucionista que sustenta metodologicamente o estabelecimento de parâmetros comparativos entre humanos e grandes símios. Isso porque se trata de considerar a dimensão não exclusivamente física da herança genética no cotejamento das relações entre humanos e não humanos. Nesse sentido, pretende-se revisitar as fronteiras clássicas que determinam a distinção entre animais humanos e não-humanos, ou seja, cultura, consciência, sociabilidade, poder, capacidade simbólica e cognitiva etc, a fim de revê-las e reavaliar o que nos distingue dos outros animais a partir de uma perspectiva antropológica que considere as descobertas e os debates das biociências.