Sobre o consumo de medicamentos para a melhora cognitiva e do humor: primeiros passos de uma Cartografia das Controvérsias

Autores

  • Cristiana de Siqueira Gonçalves Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGP/UFRJ), End: Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos,
  • Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro Doutora em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. Professora Associada IV do Instituto de Psicologia - Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGP/UFRJ)

Resumo

O avanço biotecnológico tem possibilitado o aparecimento das enhancement technologies, intervenções que visam a melhora do funcionamento ou de características humanas para além do sustento da saúde ou reparo do corpo, sendo uma dessas intervenções o consumo de medicamentos para a melhora da performance cognitiva e do humor, tais como o metilfenidato e os antidepressivos. O metilfenidato, que inicialmente era restrito ao tratamento de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), teve seu uso estendido quando tal diagnóstico passou a abranger pessoas em idade adulta (Conrad, 2007). Atualmente, vemos uma apropriação de seu consumo para fins de enhancement, que tem repercutido na mídia através de notícias de “concurseiros” e executivos que fazem uso dessas substâncias para conseguir estudar ou trabalhar por mais horas. O antidepressivo, surgido nos anos 50, que teve relutância em ser comercializado pela indústria farmacêutica, por falta de mercado para o mesmo (Aguiar, 2004), teve grande expansão nos anos posteriores. Atualmente, o aumento nas prescrições desses medicamentos, leva ao questionamento se este consumo está associado ao aumento de transtornos ou a questões próprias da vida que estão sendo medicalizadas. Vemos assim, uma apropriação e aumento do consumo desses medicamentos que não está livre de controvérsias. Há uma indefinição nas fronteiras que definem o que é tratamento e o que é enhancement. Além disso, questões éticas controversas – como a segurança, a coerção, a justiça distributiva e a redefinição da natureza humana – se fazem presentes, tendo efeitos sobre a produção da subjetividade contemporânea. Nesse sentido, o presente trabalho visa cartografar tais controvérsias envolvidas no consumo de medicamentos para fins de enhancement, buscando entender melhor essa rede sociotécnica heterogênea - composta por humanos e não-humanos -, fruto de associações entre diferentes atores, que tem se estabelecido de determinada maneira, mas pode ser constituída diferentemente, performando outras realidades.

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Publicado

2015-05-12