Da Depressão ao Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade: notas sobre a promoção publicitária da Ritalina®

Autores

  • Miguel Hexel Herrera Mestre em Antropologia Social pela UFRGS. Aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade do Rio Grande do Sul (PPGAS/UFRGS).

Resumo

Este trabalho consiste em um recorte de minha dissertação de mestrado na qual exploro o tema da medicalização. A pesquisa toma como objeto a promoção do fármaco Metilfenidato (MFN), conhecido pelo nome comercial: Ritalina®. Trata-se de uma droga psicoestimulante atualmente estabelecida como tratamento de primeira linha para o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). A produção médico-científica afirma que o TDAH é uma doença de alta prevalência em crianças em idade escolar, sendo o “distúrbio neurocomportamental” mais comum na infância. Dados epidemiológicos sobre a expansão da prevalência do TDAH e sobre aumento do consumo da Ritalina® somados às complexas relações entre diversos atores em cena (clínicos, pesquisadores, indústria farmacêutica, mídia, consumidores) sugerem que, além da apropriação dos modos de vida das pessoas pela medicina, está sendo estabelecido um vasto mercado corporativo. Este trabalho acompanha a trajetória da Ritalina® a partir da análise de material promocional destinado a profissionais da área médica. As propagandas examinadas foram coletadas em jornais médico-científicos por meio do buscador google e do Portal de Periódicos da Capes (periodicos.capes.gov.br) e compreendem o período de 1956 – quando a Ritalina® passou a ser comercializada nos EUA - até 1971. Os anúncios demonstram que esse psicofármaco foi inicialmente indicado para problemas distintos como depressão, fadiga, letargia e narcolepsia. Ao longo dos anos 1960 a Ritalina® passou a ser reconhecida como medicação psicoestimulante de primeira linha para tratar “crianças hiperativas” e transtornos de aprendizado. Argumento que ao considerarmos propagandas promocionais de fármacos como documentos legítimos é possível contribuir para resgatar aspectos históricos e sociais de determinada droga que de outro modo poderiam passar desapercebidos, uma vez que este tipo de material caracteriza-se como um elemento imprescindível no arsenal persuasivo dessas empresas.

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Publicado

2015-05-12