Práticas desviantes: da gambiarra a desobediência tecnológica, quebrando a sócio-lógica do capital
Resumo
Alterar de alguma forma as características - sejam elas de função, de durabilidade ou estéticas –, de objetos, principalmente os produzidos em série, de acordo com nossas necessidades específicas, é uma prática quase inevitável e diária. Por serem práticas simples e corriqueiras tendemos a não prestarmos atenção no seu processo de produção particular, nos conhecimentos envolvidos, bem como na potência transformadora de tais ações. Na bibliografia as mesmas práticas de alteração de objetos vêm sendo conceituada de diferentes formas, com implicações ético-políticas significativas. As conceituações são: gambiarra (BOUFLEUR, 2006 e ROSAS, 2006), desvio de uso (KASPER, 2006, 2009; AKRICH, 1998), desobediência tecnológica (OROZA, 2012) e design não intencional (NID, em seu acrônimo em inglês) (BRANDES & ERLHOFF, 2006; SCHNEIDER, 2010). Estas práticas podem ser vistas como desvios conscientes ou não dos princípios econômicos e técnicos que norteiam a produção industrial, desta forma colocam em xeque os fundamentos éticos e históricos do modo de produção capitalista. Pois podem ser um índice da tentativa sistemática de distensão dos limites do capitalismo, por meio da produção de massa e do consumo, da capacidade de recomposição do planeta. A presente proposta visa realizar uma revisão comparativa dos diferentes conceitos formulados a partir de tais práticas, bem como discutir as implicações práticas que podem emergir de cada um destes conceitos, principalmente a luz das questões ambientais contemporâneas.