"Para fazer nossa cultura aparecer": equivocações e reflexividade entre modos de conhecer entre os Kaiowa e a educação escolar
Resumo
Neste texto esboço algumas considerações sobre a produção de conhecimentos e reflexividade entre os Kaiowa a partir de projetos escolares que buscam produzir relações entre os modos de conhecer kaiowa e a escola indígena em Te’ýikue, Caarapó - MS. O objetivo é refletir sobre certas “equivocações” (VIVEIROS DE CASTRO, 2004) que ocorrem nas propostas de ensino diferenciado a partir da extensão das atividades escolares para lugares ditos como de “conhecimento tradicional”. Para tal movimento procuro trazer algumas “cenas etnográficas” sobre o processo de construção de uma ogajekutu – casa de reza conduzida pelos professores kaiowa, que tinha como propósito aproximar os regimes de conhecimentos - dos Kaiowa e dos brancos através da escola como modo de transformação das potências e saberes dos outros na produção das relações sociais contemporâneas. A intenção deste texto é tecer alguns apontamentos a partir dos enunciados kaiowa sobre objetificações e inovações que partem das relações kaiowa referentes ao conceito de cultura – esta tomada como nexo de redes de relações na mediação entre os diferentes modos de existência. Para este fim, levo em consideração a inviabilidade do projeto escolar mencionado devido à falta de interlocução com os xamãs e outros especialistas kaiowa na condução das atividades na ogajekutu, que se posicionaram contrários à participação naquela casa de reza devido a sua vinculação à escola. Como efeitos deste impasse ocorreram muitos debates durante o ano de 2012 entre os professores e os especialistas kaiowa acerca dos modos de transmissão e ensino de certos regimes de conhecimentos na produção de entendimentos de quais seriam as estratégias para mediar como “ensinar” o ore reko - modos de ser e conhecer kaiowa, nos ambientes caracterizados como de brancos – karai reko - especificamente a escola.