Guardar e produzir: processos de manejo de pesca na várzea da Amazônia Central

Autores

  • José Cândido Lopes Ferreira Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

Resumo

Sistemas de manejo de recursos naturais, voltados para a pesca, funcionam como interfaces que vinculam cientistas, governo, população local, peixes e ambiente de várzea com a finalidade de regular o uso desses recursos com vistas a garantir sua sustentabilidade. Mudanças nos procedimentos técnicos de extração desses recursos é parte estruturante das atividades de manejo. Um tópico recorrentemente discutido nos últimos anos em antropologia é a interação de diferentes atitudes e concepções sobre o que seja natureza, ou recursos, em contextos que vinculam cientistas e população local. Termos como “manejo”, “recursos” e “natureza” guardam diversidade de significados sob uma aparente universalidade. Dissensões surgem na prática, durante as interações entre conhecedores locais, cientistas e porta-vozes do Estado. No caso abordado neste trabalho, trata-se do manejo de pesca do pirarucu (Arapaima gigas), na Amazônia Central. Pescadores estabelecem relações de posse sobre peixes na medida em que trabalham em suas “reservas” para garantir a reprodução da espécie. Cientistas da conservação monitoram taxas de fecundidade, movimentos de migração e dinâmicas populacionais. Porta-vozes do Estado ressaltam os termos da legislação e o controle sobre a qualidade da produção. A conservação da espécie estaria garantida mediante o respeito à legislação e à consequente adoção de uma atitude consciente no uso dos recursos naturais pelas populações locais, afirmam cientistas e agentes do Estado. Por outro lado, pescadores percebem a abundância de peixes nos ambientes manejados e têm explicações próprias para isso. Este trabalho se propõe a analisar mal entendidos, ou equivocações, nos termos de Eduardo Viveiros de Castro, surgidos em meio às atividades de manejo de pirarucu, tomando-as como parte de um sistema técnico em que há constante negociação sobre os modos de fazer, sobre o que é permitido ou não, tendo como parâmetro critérios de sustentabilidade determinados por relativos consensos institucionais.

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Publicado

2015-05-16