Cientistas humanos, trabalho de campo e licenciamento ambiental – impressões e impactos

Autores

  • Natália Morais Gaspar Professora Substituta – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Doutora em Antropologia pelo PPGSA/IFCS/UFRJ.

Resumo

O objetivo deste trabalho é refletir sobre os discursos e práticas técnico-científicos acionados na elaboração da parte chamada de “socioeconômica” de estudos ambientais destinados ao licenciamento de grandes empreendimentos potencialmente poluidores no Brasil. Os estudos da chamada “socioeconomia” de regiões a serem “impactadas” por grandes empreendimentos têm cada vez mais compreendido informações primárias, coletadas por profissionais da área de Ciências Humanas e Sociais. Estes profissionais realizam trabalho de campo contratados por empresas de consultoria ambiental, que por sua vez são contratadas pelo “empreendedor” para elaborar estudos demandados pela legislação ambiental brasileira.  A partir dos estudos etnográficos das práticas científicas empreendidos por Bruno Latour, especialmente a observação de uma expedição à floresta amazônica que serve de base para que o autor analise a formação de conceitos científicos, a proposta aqui é analisar a maneira pela qual os “dados” “socioeconômicos” “coletados” por pesquisadores em condições bastante específicas de trabalho de campo se integram aos estudos ambientais e o papel que desempenham na satisfação de exigências do órgão licenciador, na definição de grupos alvo de medidas “compensatórias” ou “mitigadoras” e na construção de um discurso técnico-científico que em geral tem afirmado e legitimado a viabilidade socioambiental de grandes empreendimentos. Este trabalho é fruto da análise das minhas experiências em empresas de consultoria ambiental no Brasil, sob diferentes vínculos de trabalho, entre 2006 e 2014. Estive envolvida na realização de estudos e atividades do licenciamento ambiental de empreendimentos como rodovias, linhas de transmissão e subestações de energia elétrica, portos e atividades petrolíferas.  Neste ínterim, compartilhei experiências e impressões de outros profissionais que atuam no mesmo campo. Trata-se, portanto, de uma observação em primeira mão da elaboração de estudos ambientais, que utiliza pesquisadores como informantes, procurando não usar o que dizem para explicar o que fazem.

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Publicado

2015-05-12