Seguindo as trilhas do gado e do arroz na Raposa Serra do Sol: conexões transnacionais no embate entre a pecuária indígena e a rizicultura corporativa

Autores

  • Catarina Morawska Vianna Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de São Carlos (PPGAS/UFSCar) e coordenadora do Laboratório de Experimentações Etnográficas.

Resumo

A decisão do Supremo Tribunal Federal que garantiu a demarcação contínua da TI Raposa Serra do Sol (RSS) em 2008 imprimiu uma pesada derrota aos arrozeiros que vinham resistindo aos mandados de desintrusão das áreas que ocupavam ilegalmente. Sua posição contava com amplo apoio local e nacional, reunido em torno do já antigo argumento de que deles dependiam a proteção da soberania nacional e a promoção do desenvolvimento do país. De acordo com os defensores dos arrozeiros, as campanhas internacionais promovidas pelo Conselho Indígena de Roraima ao longo dos anos apenas comprovavam a hipótese de que forças estrangeiras representadas por ordens religiosas e ONGs internacionais valiam-se dos índios para saciar a sua cobiça pelas riquezas da nação. Tendo em vista estas acusações sobre a cooperação internacional junto a povos indígenas, ainda frequentemente retomadas por agentes do agronegócio, este trabalho propõe o duplo movimento de descrever tanto as conexões transnacionais dos índios quanto as dos arrozeiros de modo a contrastar os diferentes gerenciamentos tecnológicos que cada um fomentava na RSS: a pecuária extensiva e a rizicultura de alta performance. Adotar a estratégia etnográfica de seguir a trilha do gado e a trilha do arroz permite mostrar o embate de conceitos, saberes e lógicas distintos na ocupação da RSS. De um lado, a trilha do gado na RSS nos leva a relações de cooperação internacional com organizações indígenas sustentadas através da mobilização de conceitos como comunitarismo e injustiça social, fortalecendo um tipo de lógica expressa pelas soltas. De outro lado, a trilha do arroz revela como o investimento de capital na região proliferou organizações movidas por conexões transnacionais que fomentavam a lógica das cercas na ocupação do território com seu maquinário, sementes híbridas, produtos químicos. Trata-se de uma experimentação etnográfica contrastiva que coloca o disseminado argumento desenvolvimentista sob jugo crítico.

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Publicado

2015-05-12