Sobre Pessoas e Diagnósticos: A experiência de Tomás no Programa BPC Trabalho

Autores

  • Valéria Aydos Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Resumo

A partir da implementação do Projeto Piloto de Incentivo à Aprendizagem de Pessoas com Deficiência do RS, uma rede de especialistas, atores governamentais e empresas privadas passa a promover a inclusão desta população no mercado de trabalho. Tal ação prevê que pessoas até então contempladas pelo Benefício da Prestação Continuada (BPC) possam realizar cursos preparatórios e estágios práticos em organizações empresariais objetivando a sua contratação por meio da Lei de Cotas 8213/91. Neste contexto, as experiências de inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista trouxeram à tona o debate sobre a dificuldade de elaboração de laudos médicos e a condição deste diagnóstico como deficiência e/ou neurodiversidade humana, como também impulsionaram discussões teóricas e práticas sobre como as empresas podem e devem conduzir a vida laboral destes funcionários. Tomás, cuja participação no projeto culminou em seu primeiro emprego em uma empresa de Porto Alegre, é um dos jovens que acompanhei neste percurso. Minha convivência com ele e a observação de suas novas experiências de interação social com a família, os especialistas e os colegas de trabalho, permitiram-me refletir sobre os efeitos das categorias biomédicas nas práticas de gestão e nos processos de subjetivação das pessoas com deficiência, assim como sobre a forma como as pessoas habitam estas categorias e são capazes de agir sobre elas e a partir delas. A etnografia do caso de Tomás é rica para análise não apenas pelo fato de possibilitar o acompanhamento da implementação desta política pública na prática a partir da perspectiva da experiência do seu “usuário”, mas por lançar luz sobre seus efeitos nos processos de subjetivação das pessoas com deficiência, na biopolitização da vida e na construção simbólica e prática de novos tipos de cidadãos e ‘sensibilidades sociais’ no Brasil.

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Publicado

2015-05-12