Não afeta a libido!: reflexões sobre hormônios e a construção da viabilidade de contraceptivos masculinos
Resumo
O lançamento de uma “pílula masculina”, um contraceptivo reversível voltado para os homens com eficácia equivalente à da pílula anticoncepcional feminina, já foi anunciado diversas vezes desde a década de 1970. Esse produto nunca chegou ao mercado, mas a sua presença na mídia foi recorrente ao longo dos anos e a promessa de que ele finalmente seria lançado foi sendo renovada a cada década (OUDSHOORN, 2003; SILVA, 2004). Atualmente, presenciamos mais um momento de otimismo em relação a sua disponibilização. Diversos meios de comunicação anunciam o desenvolvimento de várias tecnologias contraceptivas masculinas reversíveis e afirmam que elas podem estar no mercado nos próximos anos. Para além da possibilidade de lançamento dessas novas tecnologias, o objetivo da presente pesquisa é analisar o trabalho de construção da viabilidade de contraceptivos reversíveis para homens realizado por um ator de destaque no campo da contracepção masculina, a ONG estadounidense Male Contraception Initiative (MCI). O propósito desta
organização é permitir o desenvolvimento de contraceptivos masculinos e demonstrar a demanda existente para tais produtos. Para isso, atua provendo recursos técnicos e financeiros para pesquisadores e constitui-se como um centro para conectar, informar e engajar defensores dessas tecnologias. O processo de construção de viabilização de contraceptivos masculinos reflete e materializa a atual configuração das relações de gênero no âmbito da contracepção e aspectos a ela relacionados. Deste modo, a defesa pela ONG analisada de um novo paradigma não hormonal para o campo da contracepção masculina nos parece, nos termos de Lévi –Strauss, “boa para pensar” o caráter generificado dos processos de (bio)medicalização e, mais especificamente, o papel dos hormônios nesses processos.