Saberes indígenas na universidade: reflexões sobre as implicações da presença de um grupo de professores Tikmũ'ũn-Maxakali na UFMG
Resumo
Com o fim de desenhar horizontes de trabalho conjunto e políticas de interesse comuns em parceria com os povos indígenas, vêm se constituindo, ao longo desses anos, práticas de convivência entre diferentes regimes cosmológicos no contexto acadêmico da Universidade Federal de Minas Gerais. Em particular, com a implementação de duas diversas ações formativas – o programa Saberes Indígenas na Escola (SIE) e o Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI) – houve, nos últimos anos, um incremento significativo da presença de um grupo de professores Tikmũ'ũn-Maxakali na universidade. Esta experiência, que levou os participantes indígenas e não indígenas a ocuparem outros lugares e experimentar outras formas de
conhecimento, evidenciou uma série de implicações relativas a um “encontro entre saberes” que confronta regimes cosmológicos divergentes, agências humanas e não humanos, formatos da ciência moderna e práticas de conhecimentos “tradicionais”. As atividades realizadas ao longo desses projetos, revelam, nesse sentido, uma certa ineficácia das propostas político-pedagógicas de “transversalidade” que orientam a prática. A centralidade do registro escrito, eleito como critério de validação dos saberes “diferenciados”, se torna um eixo crucial que esse trabalho pretende problematizar a partir de uma breve apresentação da especificidade cosmológica e sociolinguística do povo Tikmũ'ũn-Maxakali, e das reflexões ligadas ao conceito de “cosmopolítica”, proposto por Isabelle Stengers.