Políticas Etnográficas e Resistência Ciborgue: os Programas de Compartilhamento de Arquivos em Perspectiva
Resumo
Este trabalho consiste em refletir acerca das possibilidades de atuação etnográfica junto a realidades sociais constituídas e permeadas, simultânea e simbioticamente, por práticas online e offline. Tal reflexão decorre do processo de produção de minha tese, ainda em andamento, sobre as práticas de resistência manifestadas por/através programas de compartilhamento de arquivos –Napster, The Pirate Bay e Popcorn Time– frente aos esforços de regulação da propriedade internacional na internet –, resistência que chamarei de “resistência ciborgue”. Os programas de compartilhamento de arquivos podem ser entendidos enquanto serviços online de distribuição e compartilhamento não-autorizados de conteúdo protegido por direitos autorais, como filmes e
músicas. É possível identificar diversas manifestações de resistências relacionadas a tais programas – o próprio surgimento destes pode ser entendido enquanto expressão de reação às economias morais dominantes –, me atenho, neste trabalho, àquelas diretamente direcionadas às corporações que ameaçam a existência desses serviços. É possível perceber que no cenário de instabilidade e incerteza acerca da continuidade dos programas, a resistência ciborgue demanda, também, uma etnografia ciborgue atenta às manifestações online e off-line que compõem e reforçam a atuação dos programas – os protestos em defesa dos programas se dão tanto nos espaços online e off-line – promovendo a necessidade do debate sobre as possibilidades híbridas nos campos de pesquisa. Nesse sentido, este trabalho busca refletir os modos de investigação de repertórios online e off-line de resistências, assim como a potencialidade de políticas etnográficas ciborgues na produção antropológica.