Lembrar ruínas

ocupações guarani do espaço e relações com turismo em Puerto Iguazu, Argentina

Autores

  • Luna Mendes

Resumo

Este trabalho deriva de minha pesquisa de campo junto aos guarani mbya na cidade de Puerto Iguazu, Missiones, Argentina. Trato do histórico de uma floresta, habitada pelos guarani, que nos anos 2000 foi parcialmente cedida ao grande capital (redes hoteleiras internacionais) que passaram a explorá-la comercialmente por sua ‘intocabilidade’, vedando aos guarani o acesso a áreas com recursos que sempre estiveram disponíveis: plantas, nascentes, rios. Os guarani foram, evidentemente, extremamente afetados pela invasão hoteleira e o turismo passou a ser uma questão/problema cotidiano. Neste trabalho, passo por problemas como: avaliações dos turistas (em sites como trip advisor) considerando os guarani como uma dentre outras atrações turísticas da cidade, as relações dos hotéis com as aldeias, interesses internacionais no turismo sustentável em aldeias indígenas (e suas noções de preservação); mas enfatizo as estratégias adotadas pelos guarani para sobreviver em meio a essa devastação socioambiental. Escrevo principalmente sobre a aldeia Ita Poty que consiste em uma retomada dentro do que viria a ser a área do hotel Hilton (que teria um campo de golf de 18 hectares com um imenso espelho d'água), os guarani retomaram essa terra quando a destruição já havia sido iniciada: parte do monte dinamitada, árvores derrubadas e um rio desviado para alagar uma área e transformá-la em laguna (tudo feito em uma zona de preservação). A estratégia dos guarani passou por dar visibilidade às ruínas da floresta, ao invés de tentar reconstruir e aterrar o espaço, optaram por fazer da destruição um lugar de memória e fizeram um observatório de aves para onde levam os turistas em uma caminhada guiada onde contam a história da aldeia e da briga contra o campo de golf. Neste trabalho exploro os caminhos escolhidos pelos guarani, as estratégias inventadas para se movimentar em meio a todos esses atores e como tentam se esquivar do enquadramento e cercamento do turismo criando seus próprios percursos nos espaços que habitam.

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Publicado

2022-04-28

Edição

Seção

ST12 Dos Troços aos Destroços: ciências emergentes e saberes ressurgentes no Antropoceno