Saravá Seu Tranca-rua que é dono da gira no meio da rua
A gira do Estado
Resumo
Neste trabalho invoco Exu Tranca-rua para problematizar a presença do Estado no diálogo com as giras de Exu que acontecem no Rio de Janeiro. Desse modo, o trecho do ponto: “Saravá Seu Tranca-rua dono da gira no meu da rua” vem problematizar a ocupação dos espaços públicos pelas giras de Exu e para demarcar território. Tranca-rua é o povo: povo de rua – os exus, mas também é povo da rua – as pessoas em situação de rua que zelam e a habitam os Arcos da Lapa, onde ocorrem as giras, criam formas de habitar, existir e resistir na rua. Logo, o objetivo dessa pesquisa é compreender como o Estado é visto pelos agentes, como aparece nas cantigas. Essa etnografia delimita-se a observação de duas giras, sendo: uma no Santuário de Zé Pilintra, no bairro da Lapa, no centro da cidade do Rio de janeiro e outra no Parque de Madureira, bairro de Madureira subúrbio do Rio de Janeiro. Essa pesquisa também contou com entrevista realizada com o diretor do Santuário de Zé Pilintra, sobre a administração do santuário e a relação com o Estado. O trabalho tem inclinações de três tendencias teóricas, a antropologia urbana e antropologia da religião por abordar giras de exu nos espaços urbanos onde a “coexistência de diferentes estilos de vida e visões de mundo” (Velho,1999:21) e por buscar compreender os lugares de sociabilidade entre indivíduos e divindades e com a antropologia da performance por vislumbrar a possibilidade de análise dos rituais, sua estrutura e interesse na análise das danças, músicas, comportamentos e gestos presentes nas giras. Percebe-se que o Estado visto como um espectro que distante do povo e que aparece para oprimir, disciplinar, vigiar, punir e controlar a vida e a morte, atuando sobre o território e usando de diferentes técnicas de controle e dominação.