“Facas de dois legumes”
Sobre os emaranhamentos e tramas no aprendizado de um curso de culinária
Resumo
“É como se a flecha estivesse pensando, inseparável que é do corpo tanto como ferramenta quanto como beleza” (Taussig, 2021, p. 2, grifo do autor). Como entender a relação entre os sujeitos e as coisas que se emaranham (Ingold, 2012) ao longo da trama de uma determinada superfície, e como o aprendizado de uma prática atravessa essa reunião e a produção mútua tanto das coisas como dos sujeitos? Como esses emaranhamentos são orientados por uma perspectiva estética e ética de relação tanto com os materiais quanto com as ferramentas? Situando-se no contexto de um curso de preparo de sushi da cidade de Florianópolis (SC), este trabalho se dedica a uma “etnografia afiada” para apresentar um conjunto de observações iniciais sobre a rotina de aulas e exercícios neste lugar, notando como o desenvolvimento das habilidades culinárias pelos estudantes participa da produção de um campo de práticas relacionadas (Ingold, 2010), em que as técnicas corporais (Mauss, 2005) se emaranham às ferramentas e materiais do trabalho ‒ em especial às facas ‒, e como as formas dessas “coisas” produzem seus próprios modos de fazer na dinâmica entre corpo humano e corpo metálico, entre traços e rastros feitos pela atividade culinária nesta malha de pessoas e coisas.