Diálogos com a terra
Um estudo de caso no sertão de Pernambuco
Resumo
Este texto é baseado em um estudo de caso realizado com uma família que vive em um sítio no sertão de Pernambuco e tem implementado práticas agroecológicas no local há uma década. A pesquisa de campo foi conduzida entre 2019 e 2021, utilizando observação participante e entrevistas não estruturadas com os membros da família: Vicente, Cícera e seus quatro filhos. O casal relata que, durante a aquisição da propriedade, vizinhos e familiares se opunham, argumentando que aquela terra seria improdutiva por ser excessivamente seca. Assim, eles se viram compelidos a buscar estratégias que pudessem transformar aquele ambiente. Com esse cenário, o presente trabalho objetiva discutir mudanças na relação entre seres humanos e terra durante a transição do cultivo convencional para o manejo de base agroecológica no sertão. A partir dos relatos, percebe-se que o manejo agroecológico exige mais do que alterações nas práticas de cultivo; também envolve uma mudança na visão sobre a terra, que passa a ser compreendida como um ser vivo, dinâmico e dialogante com o espaço. Aqueles humanos veem sua missão de vida no cuidar da terra, e, por sua vez, a terra também cuidaria deles. Alguns obstáculos podem surgir nessa relação, como a diferença na percepção que humanos e terra têm sobre o tempo. No entanto, o sucesso estaria na virada de perspectiva de uma visão utilitarista sobre a terra, para uma concepção de construção de vida compartilhada entre múltiplos seres, entre eles, humanos e terra.