A canoa Yudjá e o antídoto contra a tempestade
Uma etnografia multiespécies nas bordas do Plantationceno
Resumo
Pretendo aprofundar a discussão de temas como: a produção de conhecimento ecológico de povos ameríndios; a centralidade das plantas na produção da socialidade mais que humana; a ecologia não antropocêntrica e contracolonial; e as estratégias indígenas de adaptação à emergência climática como consequência das relações de dominação empreendidas na modernidade pelo processo contínuo de colonização. Considerando os impactos do desmatamento no entorno do Território Indígena do Xingu-Mato Grosso nas vidas de indígenas do povo Yudjá, das plantas e de outros viventes, pretendo dialogar com a possibilidade de "descrições crítica” das dinâmica de manejo e a ocupação do território indígenas para a articulação entre os diversos fatores e camadas que constituem a emergência de socialidades multiespécies. Trata-se de uma complexa situação etnográfica que envolve os indígenas do Povo Yudjá e as florestas do Território Indígena do Xingu de um lado dos limites dessa Terra Indígena, o seu entorno onde monoculturas de capim, soja, milho e algodão conformam fazendas, cidades e empreendimentos de escala global, e a interação entre essas paisagens. Irei debater como as concepções nativas, as práticas de manejo empreendidas na atualização das relações cosmopolíticas em um contexto de impactos da emergência climática nas ruínas do desmatamento podem ajudar a evidenciar e descrever a centralidade dessas relações humanos-plantas na produção de uma socialidade multiespécie.