Sobre o aprender com o silêncio
As mestras e mestres da “pintura de toá” e da “construção de enchimento” das terras indígena Xakriabá
Resumo
A proximidade, a escuta silenciosa e o fazer comum como modos de ensinar e aprender com a Mestra D. Libertina e com as outras mestras e mestres Xakriabá. Para elas e eles o conhecimento é um saber compartilhado e coletivo. Aprende-se fazendo juntos e juntas. Cada um ensina e aprende com a prática e o fazer do outro. Não se tem um princípio de autoria, ou assinatura, individualizada do feito. A referência a quem fez é compartilhada por todos aqueles que participam e que colocam a sua própria mão no processo de construção: o fazer/aprender está aberto a todos e todas que quiserem praticar e aprender fazendo junto. Tal processo de produzir através de um fazer compartilhado não separa aquele que sabe daquele que veio ajudar e aprender fazendo. Todos e cada um têm o seu papel incorporado ao processo de produção: não existe uma hierarquia pré-definida e não há alguém que é o mestre e ensina a um outro que se submete por aprender. Também não há uma obrigação de permanência durante o processo construtivo, nem uma ordem cronológica sequenciada para a troca de um conhecimento. Cada um pode chegar e sair quando lhe aprouver. Cada um pode atuar no processo como se sentir melhor, se dispondo a fazer junto ou apenas observando aquele que faz. Experimentamos tal prática de aprendizado na construção da Casa Xakriabá, na Faculdade de Educação da UFMG, e em outras tantas práticas no Território Xakriabá no Município de São João das Missões, – envolvendo estudantes da graduação e pós graduação, de diversos cursos da UFMG, estudantes indígenas de Escolas em terras Xakriabá do Ensino Médio e estudantes Indígenas do FIEI (Formação Intercultural de Educadores Indígenas – FAE/UFMG). Mais recentemente, em 2022/23, praticamos tal modo de fazer na construção da arquitetura de acolhimento e do forno comunitário de queima de cerâmica na Aldeia Barreiro Preto, – em parceria com a D. Etelvina, Mestra da “pintura toá” e da “construção de enchimento”, e com o Mestre Nei, da cerâmica tradicional Xakriabá.