Flecha de ferro não mata anta. Materialidades vegetais, animais e metálicas nas armas Karitiana

Autores

  • Felipe Vander Velden UFSCAR

Resumo

Um arraigado senso comum sobre o que usualmente se denomina cultura material entre povos indígenas alcançados pela conquista costuma sugerir uma rápida substituição de vários objetos nativos produzidos a partir de matérias-primas de origem animal, vegetal ou mineral por instrumentos feitos de metal. Essa substituição geralmente se explica pela eficácia – o metal seria tecnicamente superior, mais durável, resistente e eficiente do que outros materiais na execução das mesmas tarefas ou de tarefas análogas – e pela abundância – o metal, em suas variadas formas, barato e produzido em massa pela civilização ocidental, levaria os artefatos indígenas à obsolescência, dada sua ubiquidade, preço baixo e acesso relativamente fácil. Não obstante, pesquisas dedicadas aos detalhes desses processos de “substituição” de objetos indígenas demonstram que podem ser mais complexos e menos unidirecionais do que o cenário em que o metal se impõe ou é imposto. A partir das flechas Karitiana no norte de Rondônia, pretendo discutir os determinantes que parecem estar envolvidos nas escolhas entre o metal, de um lado, e matérias-primas locais, como ossos ou bambu, de outro, para a fabricação de armas. Meus dados sugerem que diferentes materiais usados na confecção das pontas de flechas funcionam de modos distintos no abate das presas de caça. Nesse sentido, mais do que substituir prontamente as matérias-primas tradicionalmente empregadas, o metal torna-se mais um elemento no interior do conjunto disponível para seleção e uso basedos em critérios variados, nos quais a avaliação da eficácia e da abundância seguem outras diretrizes.

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Publicado

2024-11-18

Edição

Seção

ST18 Carne e ferro: agências materiais e processos técnicos nos encontros entre o vivo e o metal